A PREPOTÊNCIA E O PODER
Há algum tempo venho pensando a respeito da frase uma vez dita por Abraham Lincoln, “Quer conhecer o caráter de uma pessoa, dê a ela poder”. Estou pensando nessa velha reflexão e isso me incomoda muito, me incomoda o fato de ter que pensar nela muitas vezes, durante um dia, uma semana, um mês, porque é algo que me desagrada e faz-me se sentir extremamente frágil diante das injustiças espalhadas pelo mundo.
Vivemos em um país extremamente desigual isso é um fato argumentado e não tem como negar, o poder se concentra na mão da minoria, mas é a maioria quem sofre com o fardo de viver sob a perspectiva daquele que detém o poder. Parando para pensar entendi que o problema não se concentra somente no poder exasperado dos grandes bilionários, políticos, e donos de gigantescos comércios que pagam salários minúsculos e desproporcionais ao trabalho ofertado por seus funcionários. Mas o problema se encontra também, naquele que detém qualquer tipo de poder, influência e persuasão sobre o outro, mesmo que esse poder lhe garanta mínimas concessões. O problema também está nas diretoras de escolas que querem não somente reger o funcionamento da instituição, mas fazer o uso de tal poder pra se gloriarem com a perspectiva de estarem “acima” da mulher da limpeza por exemplo, para menosprezar o trabalho do professor, só por este não possuir o mesmo carimbo, embora possua o mesmo certificado. O problema está no médico que maltrata a enfermeira, só porque recebe alguns trocados a mais. Nos administradores de pequenas empresas, que acreditam cegamente que são o centro de todo o funcionamento da filial. As pessoas vivem em uma constante busca pelo poder, isso porque o poder lhes garante menos desprezo, e aí começa o grande ciclo vicioso da detenção de poder de um indivíduo sobre o outro, o poder corrompe as pessoas, sempre corrompeu, e até aquele que antes era o menosprezado, passa a menosprezar dali em diante.
Não é que seja ruim, se achar incrível, ter uma excelente autoconfiança e amor próprio, na realidade isso é necessário, porque com o tempo você entende que tem que se bem querer antes de querer alguém. Mas quando essa autoconfiança ultrapassa o limite do respeito e do senso para com o outro, a pessoa torna-se arrogante, e o mundo está cheio de arrogantes, então cuidado para não se tornar mais um.
Eu vejo um pingo de arrogância em todo ser humano, mas em alguns há tempestades. Somos todos incapazes de fugir da arrogância, em algum momento de nossas vidas ela vai estar lá no fundo de nossa mente, diluída entre nossos pensamentos, nos fazendo acreditar que somos melhores e maiores que um outro alguém, isso porque no fundo todo ser humano é solitário, e precisa de inúmeras formas tentar inibir sua solidão e a única verdade da vida; que somos todos iguais, e pequenos diante do universo. Nosso tamanho, incapacidade e igualdade por vezes nos entristece e nos levar a se sentir inúmeras vezes mais solitários, então uma maneira de suprimir essa solidão é acreditar que o outro vale menos que eu, porque se comporta de uma maneira menos conveniente aos meus olhos, porque não porta um diploma nas mãos ou porque ainda não fez uma viagem internacional. As mulheres se compararam umas às outras, toda hora e em todo momento nas redes sociais, a ex namorada do meu marido deve ser menor que eu, porque a existência dela fere meu ego, e me faz entender que todos somos seres humanos, e que vivemos constantemente inclusos em padrões, grupos e comunidades sociais. Tenho que fazer uma pose que valorize minhas curvas, editar minhas fotos, tirar as rugas, aumentar o quadril, não quero que me sentir menor do que as mulheres do meu bairro, por exemplo, no fundo eu quero que elas entendam que sou “melhor”.
Parando para pensar não há nenhuma lógica em achar que alguém é melhor do que eu, por exibir uma barriga tanquinho, coxas torneadas, ou vice versa, entretanto esse padrão estético que busca a “perfeição” do corpo humano existe, e está por toda parte. Então se eu sigo esse padrão, automaticamente sou enquadrado pela sociedade como superior a aquele que não segue.
Os homens também não fogem disso, precisam se sentir maiores diante dos colegas, porque não podem parecer “antiquados” aos olhos dos demais, precisam mostrar que são extremamente galanteadores. Em uma sociedade ainda machista e particular do século XXI, quem não é desapegado?
Não existe uma pessoa que não faça uso da sua arrogância de vez em quando, mesmo que essa esteja somente em seus pensamentos.
Mas o problema se encontra no exato momento em que essa superioridade fere ao outro, porque o nosso direito termina na tênue linha entre o direito do próximo, e quando a nossa arrogância ultrapassa ao outro, começamos a construir uma morada para a injustiça.
Como lidar com uma pessoa que se acha superior? Essa é uma questão muito difícil para mim, porque pessoas superiores e arrogantes dificilmente irão se comprometer a observar com mais cautela suas ações, e buscar seus erros, ainda mais se você, considerado menor por elas, apontá-los.
Pessoas arrogantes acima de tudo, são aquelas que só conseguem enxergar o erro no próximo, mas jamais nelas mesmas, quando elas passam a pensar que são perfeitas e únicas e que tudo que fazem é de bom agrado, começam a comparar o outro a si mesmas, e encontram inúmeros “defeitos” nele, ou seja, o outro não pensa como elas, não são como elas, ou tem o que elas têm, portanto automaticamente são encaixados como menores. O que é um grande equívoco, pois o que faz o outro ser ele mesmo, é exatamente todo esse conjunto de particularidades, e isso não o torna menor.
Outro fator que torna o convívio com uma pessoa arrogante, algo muito complicado, é o fato de que elas acreditam fielmente que entendem de tudo e que dominam com afinco inúmeros assuntos diferentes. Entretanto, muitas pessoas assim como eu, concordam que não existe ninguém no mundo que possa ser capaz de entender de tudo profundamente, isso é impossível, devido ao tamanho, quantidade e complexidade dos assuntos que nos cercam, existentes no mundo e fora dele.
Um astrônomo por exemplo, não é bom em medicina, assim como um escritor não é um bom matemático, ou seja, aquele que diz que tudo sabe, sabe de tudo, porém, superficialmente.
A melhor forma de conviver com alguém arrogante é se manter em silêncio ou afastado sempre, visto que discutir não é uma opção. Pessoas prepotentes tendem a todo custo querer “ganhar” uma discussão, isso porque elas não aceitam ter que concordar com outra opinião que não seja sua própria, e ainda acreditam que toda outra ideia que não provenham delas, são inadequadas e incorretas. Esse tipo de individuo não mede esforços para se manter em cima de todos e acima de tudo, portanto estão prontos para gastarem toda sua energia em uma discussão, e poderiam fazer isso por horas e horas sem fim, tentar competir com uma pessoa prepotente é inútil, logo quem perde tempo com isso se torna ignorante também.
A prepotência e o poder andam lado a lado, alguns indivíduos são arrogantes independentemente de possuírem um curso, título ou cargo que os liguem a uma concessão de poder sobre outros, todavia muitas pessoas tendem a tornar-se extremamente egoísta, quando recebem tal concessão, mesmo que não tenham sido até o momento.
Isso ocorre porque vivemos em grupos e comunidades sociais que muitas vezes fazem-nos aderir a certas ideias e percepções, como por exemplo a comum ideia de que um cargo, emprego ou curso é melhor do que outro, de que pessoas e seus valores são medidos em uma fita métrica, portanto, o outro, aquele que por algum motivo parece mais sucinto do que eu, ao meu próprio ver, merece menos respeito. Tal ideologia de valores supracitados da importância de um indivíduo sobre os demais, de todo modo é uma teoria ignorante. A sociedade funciona como uma máquina, e os indivíduos como peças de tal maquinário, cada qual com sua função específica, e não menos importante do que as demais. Se uma máquina tem uma pequena peça danificada dentro dela, logo começa a apresentar falhas e em pouco tempo deixará de funcionar, isso porque a ausência de uma peça pode afetar o funcionamento das demais. A sociedade é uma máquina a girar constantemente, e nós somos as peças que a compõem.
Por exemplo, um médico deve trabalhar uniformizado, tais uniformes são comprados em uma loja de roupas especializada em saúde, essa loja, porém, os compra de uma fábrica onde essas peças são criadas e produzidas. Agora pensando mais adiante, percebemos que a fábrica necessitou recorrer ainda, a uma loja de tecidos, que os comprou de uma empresa de fabricação de panos. Ou seja, se a empresa de fabricação de "panos" não existisse, logo não existiria um médico uniformizado, porque todos os indivíduos estão de algum modo interligados.
Uma pessoa que se acha extremamente especial diante dos demais que o cercam, ainda não entendeu a dura realidade da sociedade atual, de que sozinhos não somos nada e não realizamos nada, e que até para ser quem somos, precisamos do outro.
Tratar o outro com desprezo e arrogância além de injustiça, é um ato de futilidade sem tamanho. Eu vi e vejo tais injustiças o tempo todo, em lugares que frequento, em canais de TV que assisto e até nas redes sociais, o problema se localiza na falta de senso crítico das pessoas, e na individualização pregada em nossa sociedade atual.
Também vale ressaltar, que peças são substituíveis e profissionais também.
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